Sinestesia: Mistura os sentidos em uma dança sensorial
Já pensou em experimentar o sabor de uma cor ou o aroma de uma voz? Pois é, por mais que isso possa parecer fantasioso, essa condição existe e é chamada de sinestesia. Este fenômeno intrigante não é mágica, mas sim um distúrbio neurológico fascinante, onde os sentidos humanos se entrelaçam de maneira incomum. Em vez de operarem isoladamente, eles se influenciam mutuamente, criando uma sinfonia sensorial única.
O que significa sinestesia?
O termo ‘sinestesia’ deriva do grego ‘syn’, que significa união ou combinação, e ‘esthesia’, que se refere à sensação ou percepção. Juntos, esses elementos formam a base etimológica que descreve a peculiar união dos sentidos observada nesse fenômeno fascinante.
Este fenômeno surge devido a uma peculiaridade neurológica em que os sinais cerebrais se misturam, resultando em uma interação incomum entre diferentes áreas do cérebro. Por exemplo, a visão de um objeto, que normalmente seria processada de forma isolada no córtex visual, acaba por cruzar com sinais que se dirigem ao córtex auditivo. Esse cruzamento inesperado faz com que o objeto pareça evocar sons, revelando a complexidade e interconexão dos processos cognitivos.
Sinestesia é doença?
A sinestesia não é considerada uma doença, sendo apenas uma particularidade de quem a possui, que se estima que seja de 1% a 4% da população mundial.
Essa condição é crônica, isto é, já vem desde o nascimento. No entanto, em algum momento cerca de 15% da humanidade, em algum momento da vida, também pode vivenciar alguma forma de sinestesia.
De que maneira a sinestesia se apresenta?
A sinestesia é uma condição em que os sentidos se misturam, tornando reações automáticas e permanentes. Os sinestetas, como são chamados, podem associar palavras a cores, por exemplo, vendo-as no campo de visão. Essas experiências são geralmente memoráveis e agradáveis, com uma conexão emocional única com o fenômeno.
Embora rara, a sinestesia é uma forma natural de percepção sensorial, semelhante a qualquer outro sentido humano, como o olfato, que pode trazer tanto experiências agradáveis quanto desagradáveis.
Famosos que tem sinestesia
Estudos revelaram informações interessantes sobre a sinestesia para a comunidade científica, demonstrando que essa condição é mais frequente do que se imaginava e não apresenta distinção de gênero. Surpreendentemente, a associação de dias da semana com cores é a forma mais comum de sinestesia, ao contrário da crença anterior de que a associação de números com cores era a mais prevalente, ocorrendo apenas em 1% dos casos.
Richard Feynman (1918-1988)
Um renomado físico americano e laureado com o Prêmio Nobel em 1965, relatava a experiência de associar letras e números a cores específicas. Durante suas palestras, ele descrevia visualizar letras X em tons de marrom-escuro pairando no ar.
Vasili Kandinsky (1866-1944)
Célebre pintor russo, tinha seus sentidos entrelaçados de maneira única. Segundo seus próprios relatos, ele conseguia ouvir, cheirar e sentir as cores, chegando ao ponto de cantarolar os tons que pretendia usar em suas pinturas.
Eddie Van Halen (1955 – 2020)
Famoso guitarrista americano e fundador da banda Van Halen, afirmava ver notas musicais em cores distintas. Sua percepção da nota marrom influenciou a sonoridade dos discos da banda.
Vladimir Nabokov (1899-1977)
Aclamado escritor russo, autor do romance “Lolita” (1955), desde a infância manifestava sua sinestesia, ao reclamar que as cores das letras no alfabeto de madeira estavam incorretas. Em seus livros, ele criou diversos personagens que compartilhavam dessa peculiaridade sensorial.
Fonte: Drauzio Varella, Canaltech